adiei vezes sem conta o relato do parto do diogo...mas decidi que não poderia passar de hoje...talvez porque faz hoje um mês que aconteceu, talvez por ser o dia da mãe...
como não tenho bem noção da ordem cronológica dos acontecimentos, ficam aqui apenas alguns dos episódios para que não se percam nos confins da minha memória (e porque não, pergunto eu...).
acordámos cedinho e eu verifiquei, pela nonagesima vez, as malas...sentiamos um misto de ansiedade e expectativa...a minha irmã foi ter connosco à maternidade e ainda fomos tomar um café antes de entrar...
por volta das 9 e picos da manhã dei entrada no serviço de urgência, conforme combinado com a obstetra...aguardámos um bocado e depois fui chamada...a verdade é que nunca acreditei que fosse internada naquele dia...achava que o médico de serviço não me iria querer internar ou que não haveriam vagas...mas entrei, falei com a enfermeira, entreguei-lhe o papel da médica e fui para o CTG...voltei para a sala de espera e passado mais um bocado fui novamente chamada...
a minha médica já estava a preencher a papelada e a enfermeira entregou-me 2 batas horríveis e um saco do lixo (!) para colocar a minha roupa...fui-me mudar à casa de banho e quando voltei fui brindada com a rapagem dos pêlos púbicos e com o clister...voltei à casa de banho...
posto isto, fui "convidada" pela enfermeira para a acompanhar...o nervosismo crescia e eu nem queria acreditar que afinal tudo estava mesmo a acontecer...encontrei-me com o meu companheiro no hall do Hospital (naqueles lindos trajes) e entreguei-lhe o saco...foi informado de que poderia em seguida ir ter comigo ao 2º andar...menos mal...
quando cheguei ao 2º andar, por volta das 11 horas da manhã, esperavam-me a médica que me iria acompanhar (uma colega da minha médica que conheci 2 dias antes) e duas enfermeiras...deitei-me na cama, fui ligada ao CTG e ao soro...a médica fez-me o toque...tudo muito verde, a augurar muito tempo de espera...a médica afirmou que seria melhor eu andar...
passado um bocado o pai do diogo teve autorização para entrar...a médica e as enfermeiras apareciam de quando em vez para saber se eu sentia algum desconforto...nada...
mais tarde a médica desligou por um bocado o CTG...e quando o pai-vagem foi almoçar (comer qualquer coisa, que eu não o deixei ausentar-se por muito tempo), pedi para ir à casa-de-banho...estava a começar a ficar farta da arrastadeira e não me esquecia de que a médica me tinha dito que seria bom andar...lá me arranjaram um "cabide" para o soro...lá fui à casa de banho...lá expliquei às enfermeiras que queria andar um bocado...lá cirandei pelos corredores do bloco (coisa rara, de certeza, dada a admiração com que as enfermeiras me olhavam...cheguei mesmo a ser interrogada sobre quem me tinha dado autorização para aquilo)...
as horas passavam e...nada...nem desconforto, nem dores, nem nada...a "ameaça" da médica..."se não sair por baixo, sai por cima"...eu a passar-me porque sabia muito bem porque tinha estado tão relutante com a história da indução...passámos o tempo entre jogos e fotos tiradas às escondidas das enfermeiras...
entre todos estes acontecimentos, fui tocada várias vezes...e sempre sem novidades...
não sei a que horas, comecei a sentir dores nos rins...bom sinal, segundo a médica...mas nada de dilatação...
por volta das 17h e 45m começou a coisa a sério...muitas dores...muitas dores...muitas dores!!
chamámos a médica...dilatação: nada! falou-me da epidural e eu respondi que preferia tentar aguentar sem necessitar de a levar...levei com uma dissertação sobre os benefícios da modernidade...mas que a escolha seria minha...
não sei por volta de que horas, o pai-vagem começou a tentar convencer-me a levar a epidural...as dores já eram indiscritiveis...pedi para chamar a médica e perguntar se ainda levaria muito tempo...nunca irei esquecer a resposta: "está a ver o caminho daqui ao porto?? ainda vamos em sacavém!"...a ideia de um percurso tão longo aliado ao facto de a médica ter explicado que as contracções ainda iriam dobrar de intensidade levaram-me a recuar...e a pedir o que sempre pensei não necessitar...venha a epidural!
mas a epidural não podia vir porque eu não estava a fazer a dilatação...e as dores eram tantas mas tantas que eu julgava não aguentar...se não fosse o pai-vagem acho que teria enlouquecido...
por esta altura, já o enfermeiro se tinha abeirado de mim perguntando se não tinha aprendido mais nenhuma respiração (já eu ofegava a 100 à hora...)...tiveram que me pôr a oxigénio e "re-aprendi" a inspirar e expirar profundamente...
a dada altura tudo começou a tornar-se irreal...as dores fortes demais (como é possível aguentar aquilo, pergunto eu...)...a má disposição...os vómitos...os arrotos que me faziam querer levantar...a vontade de ir à casa de banho e a arrastadeira entre as contracções (!) cada vez mais seguidas...
e o pai-vagem...a ajudar-me em todos os momentos...a vigiar o CTG e a pedir-me para respirar quando percebia que vinha aí mais uma...a impôr-me controlo quando eu desperava, chorava ou gritava...
o rebentar das águas...eu a sentir-me toda molhada...mais suja que nunca...acho que foi aqui que me colocaram as fraldas...que me acompanharam até ao momento da expulsão...fraldas...!
toques e mais toques e nada de dilatação...e as dores a tornarem-se indiscritiveis...até ao "toque mágico"...gritei como nunca mas a médica arrancou-me 2 dedos de dilatação à força...
e, às 10 e meia da noite, veio a epidural...o pai-vagem saiu (a muito custo e só depois de eu ter a certeza que a médica já ali estava) e mandaram-me sentar com o rabo à beira da cama com as pernas cruzadas...e que querem que eu faça às dores, senhores?!...uma almofada encostada ao peito para agarrar...cabeça para baixo...não mexer um centímetro do corpo...a pergunta da anestesista: "quanto mede?"...e eu sem conseguir responder por causa das dores e daquela posição horrorosa..."se não responder não vou poder calcular onde picar e as dores não passam"...a resposta sai a custo...a enfermeira ajuda a imobilizar-me (fisicamente e com a lembrança de que em breve a dor passaria de vez) e entre contracções sou picada...dor nenhuma comparada com tudo o que estava a passar...para completar o trabalho, sou algaliada (sim, a juntar às fraldas)...
estive 10 minutos ligeiramente aliviada...mas as contracções continuavam a sentir-se...e voltaram em força...nem deu para descansar...
às 11 e meia expliquei que estava na mesma (explicou o pai-vagem que eu não conseguia falar...)...perceberam o meu desespero...nova dose de epidural...
e aí...descansei...acabaram-se as dores...pude esperar em paz...eu nem queria acreditar que tinha acabado...e que, afinal...não tinha mesmo aguentado sem levar a anestesia...aliás, não tinha aguentado nada...
mais toques...e novamente a médica do toque mágico..."tem 3 dedos de dilatação...agora 4...5...e 6!"...tudo "à mão"!
penso que por volta da meia-noite e meia comecei a sentir novamente as contracções (mas sem dor) e uma ligeira vontade de fazer força...comentei com o pai-vagem que quis logo chamar o pessoal médico...pedi-lhe para aguardar...mais uma...mais uma...mais uma...sim...estava mesmo a sentir vontade de fazer força...
chamámos os enfermeiros...novo toque..."está pronto para sair, vamos preparar tudo!"...pelo que percebi estavam à espera que outra rapariga começasse antes o período expulsivo...mas não...o quarto foi preparado, o enfermeiro aprontou-se e nós olhavamos um para o outro sem querer acreditar que o final (ou o início!) estava para breve...
fui colocada conforme mandam os figurinos e o enfermeiro disse-me para fazer força sempre que sentisse vontade...foi tudo muito calmo, sem stresses, sem dor...
penso que teremos estado naquilo uns 10/15 minutos no máximo...o pai-vagem espreitava e eu ia-lhe perguntando o que via...
"vamos ver se para a próxima faz mesmo muita força para o seu bebé sair"...achei que era apenas um incentivo para continuar a fazer força...nunca imaginei que fosse tão rápido...
mas foi...
(amanhã, dia em que o Diogo completa o seu primeiro mês de vida, termino o relato...afinal...já passava da meia-noite, já não era dia 1!)